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Entrevista ao Diretor do Externato D. Afonso Henriques - Pe. José Augusto Marques
quarta-feira, 23 de janeiro de 2013 Publicado por Unknown

Para saber o atual estado da educação em Portugal e no concelho de Resende, o Notícias de Resende decidiu entrevistar o diretor do Externato D. Afonso Henriques, Pe. José Augusto Marques. Nesta entrevista poderá conhecer melhor a escola, as suas ambições, as várias dificuldades tidas nos últimos anos, entre outros assuntos.
Rafael Barbosa (RB): Externato D. Afonso Henriques, uma das escolas distritais com um passado muito positivo. Como vê o seu percurso, o passado, o presente e o futuro do estabelecimento de ensino?
Pe. José Augusto Marques (JAM): O Externato D. Afonso Henriques é uma Escola de Ensino Particular e Cooperativo com sede em Resende, distrito de Viseu, propriedade da Diocese de Lamego e administrada pela Paróquia de Resende. Surgiu em 1963, em instalações alugadas no lugar de Massas, para alunos do 5º ao 9º ano, dando resposta de continuidade educativa às crianças que terminavam a escola primária. Durante mais de uma década foi a única resposta educativa de serviço público no concelho. Quando surgiu a Escola EB2 (em 1977 - então EB2/3), o Externato foi-se extinguindo nestes anos e viria a reabrir em novas instalações junto da igreja paroquial, agora para dar resposta à continuidade dos alunos que saíam da Escola EB2/3 e que, de outra forma, terminariam aqui o seu percurso educativo. Até 1987 foi a única Escola com Ensino Secundário no concelho. Desde então, com a construção da Escola ES/3 D. Egas Moniz, ambas têm coabitado com os mesmos níveis de ensino, algumas áreas comuns e outras distintas.

Do seu passado, contamos 50 anos (a completar em outubro, próximo) de serviço público de educação à comunidade de Resende, de Baião e até de toda a Diocese de Lamego, já que também foi acolhendo os alunos que têm ingressado no Seminário Menor. Com as dificuldades próprias da interioridade, esta Instituição tem procurado dar a melhor resposta aos jovens alunos cujos pais escolhem o nosso Projeto Educativo como orientação para o futuro dos seus filhos. Orgulhamo-nos do nosso passado, porque daqui têm saído milhares de jovens que, nas mais diversas universidades do país, têm honrado esta “família” que os ajudou a crescer. Congratulamo-nos com os milhares de profissionais que em todo o país continuam a sentir as marcas dos seus educadores.

No presente, vivemos a expectativa dum futuro incerto, sem perder de vista as bases do nosso Projeto Educativo alicerçado num ensino integral dos nossos jovens com exigência e qualidade, sempre fundado nos valores do humanismo católico. Procuramos manter a qualidade duma escola que se preocupa em educar e preparar para a vida.

O futuro, gostaríamos que fosse aquele que as famílias de Resende pudessem escolher… se às famílias compete escolher o tipo de educação que querem para os seus filhos, gostaríamos de continuar a oferecer a nossa proposta educativa baseada num Projeto humanista-cristão, numa educação integral dos jovens, num ambiente familiar e de proximidade, com exigência e qualidade, sempre alicerçado pelo testemunho da história que fala por nós.

RB: Como vê a educação no concelho de Resende? Segue os mesmos passos que o país?
JAM: A educação no concelho de Resende segue, em linhas gerais, os mesmos processos da que se vive em todo o país, embora apresentando caraterísticas próprias, partilhadas de modo geral pelos concelhos do interior. Não é difícil encontrar no nosso concelho, de forma mais acentuada, as marcas da interioridade, com consequências mais problemáticas para as novas gerações. O baixo índice cultural da população concelhia, os baixos rendimentos económicos da larga maioria das famílias, os reduzidíssimos níveis de empregabilidade que o concelho oferece principalmente para pessoas com formação superior, os elevados índices de desemprego e de emprego sazonal e precário, a elevada quantidade de famílias a viverem dependentes de subsídios estatais, as baixas expectativas em relação ao futuro, os índices elevados de emigração, as baixas ambições acomodadas a uma economia de subsistência, etc, tudo isto afeta de modo significativo a mentalidade dos nossos jovens que crescem neste ambiente e têm dificuldade em criar objetivos mais elevados e, aqueles que os perspetivam e singram no ensino superior, procuram outras paragens e não regressam como mais vaila para o concelho. Assim, a população residente tende a evoluir muito lentamente, porque, em geral, só os acomodados a estes curtos horizontes se mantêm cá.

RB: Com as novas políticas educacionais implementadas, a qualidade do ensino secundário/básico estará em risco?
JAM: Muito provavelmente a tendência poderá passar por aí. O investimento na educação nunca poderá ser visto como um gasto desnecessário ou supérfluo. O futuro duma terra será o que forem as suas gentes, portanto investir nas pessoas nunca é um mau investimento, principalmente naquelas que têm a missão de construir o futuro, os mais jovens. O aumento de alunos por turma, a redução dos currículos, a diminuição de professores nas escolas, o aumento significativo das cargas horárias dos professores, a crescente burocratização do ensino e a redução do tempo disponível para os professores se dedicarem ao essencial – ensinar, são algumas das razões que poderão afetar de forma significativa a qualidade do ensino em Portugal.
RB: Há cerca de dois anos o anterior governo cortaria nas despesas do ensino particular e cooperativo. Certamente que o Externato D. Afonso Henriques sofreu com essa medida, polémica para alguns. Este ano a escola conta com menos uma turma do ensino básico, menos docentes. Espera-se mais alguma medida nos próximos tempos, face aos cortes financeiros?
JAM: Os últimos dois anos têm sido difíceis para todo o país a nível geral e, naturalmente, a educação não escapa a este estado de coisas, tendo necessariamente que contribuir com a sua parte de esforço no sentido de ajudar o país a melhorar a sua situação. O ensino Particular e Cooperativo foi o primeiro setor a sofrer o embate com cortes aplicados de imediato com o ano letivo em andamento, contrariando planificações e projetos já estabelecidos para todo o ano letivo. Não foi fácil e não tem sido fácil gerir os cortes e limitações que, desde então, têm sido impostos. Ver partir 30% dos professores no espaço de 2 anos por redução dos currículos ou imposição de redução de alunos, não é propriamente uma situação agradável de gerir. Também não tem sido fácil gerir as estruturas e funcionamento com todas as poupanças impostas mas, com a compreensão e entreajuda de todos, vamos conseguindo remediar as situações mais urgentes. O que não é possível é garantir trabalho aos professores sem aulas ou sem alunos. Neste momento, tudo o que se possa dizer em relação ao futuro próximo é mera especulação. As coisas mudam tão rapidamente ao nível das políticas em geral e da educação em especial que seria leviandade da minha parte querer imaginar o que será o ano letivo de 2013-14, muito menos os anos seguintes. De uma coisa eu estou certo, continuaremos a ter anos difíceis e a suportar os efeitos duma crise que tende a prolongar-se.

RB: Visualizando a atual crise económica que enfrentamos, aplicaria quais medidas políticas educacionais, quais extinguiria ou que outras alternativas sugeria?
JAM: A crise que vivemos é resultante dos excessos que se cometeram. É pena que sejam sempre os mesmos a pagar as crises, na maioria dos casos, os que menos culpa têm. E é lamentável que nunca sejam responsabilizados os que conduziram o país a este estado de coisas. A educação, a par com a saúde, são os setores da vida pública que mais diretamente são afetados com as medidas de austeridade, porque são aqueles que, envolvendo mais pessoas, mais facilmente podem produzir efeitos de recuperação à custa dos sacrifícios das pessoas. Porém, a longo prazo, este é o maior crime que se comete em relação ao futuro dum país. Nivelando a educação por baixo, estaremos a desqualificar as futuras gerações e a hipotecar o desenvolvimento do país. Antes de cortar na educação, deveríamos explorar todos os outros setores onde os desperdícios são mais evidentes e não são reflexo do essencial e do necessário. O país deve sair desta crise, mas temo que sair dela economicamente custe um preço demasiado elevado, o de cavar uma crise geracional de décadas por se ter desinvestido nas pessoas em detrimento das coisas. Ao nível da educação, o investimento deve ser preferencialmente nas pessoas, nos alunos, no seu futuro, na formação da sua personalidade como homens, como cidadãos e como futuros profissionais. Naturalmente isso implica investir nos professores como agentes diretos deste percurso, nos auxiliares de ação educativa, nas famílias como suporte de apoio e de acompanhamento responsável deste caminho. Criar nas escolas um ambiente de proximidade onde as pessoas se relacionam e não são meros números duma engrenagem, onde alunos, professores, funcionários e famílias se conhecem e se complementam no desenvolvimento de pessoas e cidadãos responsáveis e de profissionais competentes, será um contributo válido para um futuro melhor.
RB: Com as novas instalações da Escola Secundária D. Egas Moniz, a prioridade em o estado investir mais no ensino público, acha que os alunos irão preferir mais a escola pública? Que vantagens oferece o Externato D. Afonso Henriques aos alunos?
JAM: Em primeiro lugar gostaria de esclarecer que o Externato D. Afonso Henriques também é serviço público de educação e começou a sê-lo antes de qualquer outra escola estatal em Resende. Os investimentos em curso na Escola Secundária D. Egas Moniz revelam-se desproporcionados para as necessidades educativas do concelho atualmente, muito mais num futuro muito próximo. A legislação em vigor referente à organização da rede escolar diz que qualquer construção de novos edifícios escolares ou reconstrução deve ter em conta a oferta existente, incluindo escolas com contrato de associação (Decreto-Lei nº 108/88 de 31 de março). Ora, em face da oferta existente e da redução progressiva do número de alunos no concelho, a obra em curso é, no meu entender, desproporcionada para as necessidades.
Se os alunos vão preferir a Escola Estatal ou o Externato, só eles o poderão dizer ou decidir, juntamente com as suas famílias, porque é à família que compete escolher o tipo de ensino que pretende para os seus educandos. O Externato continuará a oferecer o seu Projeto Educativo como mais-valia para os jovens de Resende.
O Externato D. Afonso Henriques é uma comunidade educativa que tem como objetivo a educação integral da pessoa humana. Sendo uma escola pertença da Dio­cese, com administração da paróquia de Resende, tem como matriz ideológica os prin­cípios e valores do cristianismo católico enraizados no Evangelho de Jesus Cristo. Tem como objetivo formar pessoas fisicamente saudáveis, culturalmente sábias, moralmente virtuosas e, se possível, espiri­tualmente santas. Estes objetivos estão bem patentes no lema das nossas armas: “Labor, Scientia, Virtus”. O trabalho como meio de obter a ciência em ordem à vivência da virtude. Sim, porque educar é preparar para a vida, como dizia Platão “o objetivo da educação é a virtude e o desejo de converter-se num bom cidadão”.
Somos uma escola familiar, melhor, somos uma “família escolar”. Esta é uma marca de referência que herdámos do passado e que queremos preser­var, porque é um dos pilares mais seguros que sustenta a construção da comunidade educativa. E, porque a educação familiar se alicerça fundamental­mente no testemunho, queremos prosseguir as linhas mestras da educação pelo saber ser e estar. É com esta consciência que queremos construir uma comunidade educativa que prima por uma postura coerente, que vive o que ensina, ou melhor, ensina vivendo. Quere­mos uma comunidade feliz e realizada – que se questiona, que partilha saberes, que vive em comunhão. “Saber ser” é o nosso objetivo primeiro e último. Queremos que os nos­sos alu­nos sejam referência no saber pelos conhecimentos científicos e técni­cos, preparados para a vida profissional, mas queremos também que eles sejam referência na sua con­duta social e eclesial, primando pelo cumprimento dos seus deveres como cidadãos e como crentes. Saber só não basta. O sábio que não exercita o seu saber, atrofia a sua sabedoria. A melhor maneira de nos inserirmos nesta sociedade como pes­soas de referência é pela coerência e pela autenticidade.

Honramos o nosso passado, os objetivos da sua fundação e a memória daqueles que nos precederam e se tornaram referência que a memória agradecida jamais esquecerá. Por eles queremos dar continuidade ao Projeto que abraçámos, porque acreditamos que vale a pena gastarmo-nos por algo que perdura para lá de nós – a Educação.

É esta a proposta que continuaremos a fazer às famílias de Resende, a quem compete escolher a educação que querem para os seus educandos. Esperamos que as famílias sejam sensíveis ao nosso projeto e que as políticas educativas respeitem esta liberdade fundamental inscrita nos Direitos Humanos e na Constituição da República Portuguesa.



RB: Deseja acrescentar algo à sua entrevista?
JAM: Resta-me agradecer ao “Notícias de Resende” esta deferência concedida e desejar-te a ti, Rafael, as maiores felicidades pessoais e profissionais.

Unknown

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5 comentários para "Entrevista ao Diretor do Externato D. Afonso Henriques - Pe. José Augusto Marques"

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  3. Anónimo

    Caros conterrâneos ,
    Apesar de viver longe da terra que viu nascer, vivo proximo na escuta e na leitura dos acontecimentos que dão vida á nossa terra.
    Também eu tive a graça de poder participar na dedicação da Igrede Nª. Srª. Da Conceição, e , permitam que agradeça a toda mas toda … a comunidade resendense, orgulhosa, de ao fim de tantos sonhos enfrentavam a realidade, por este belissimo espaço consagrado a Deus.
    Este email, tem como objectivo ajudar ( esse é o meu desejo, espero que consiga..) a compreender o Sacramento do Batismo através das palavras do Papa Emerito Bento XVI (Celebração com batismos na cidade do Vaticano, 11/1/2009) :
    «restituímos a Deus o que veio d’Ele».
    «A criança não é propriedade dos pais, mas foi confiada pelo Criador a sua responsabilidade, livremente e de uma forma sempre nova, para que estes as ajudem a ser livres filhas de Deus», explicou o Papa.
    Sobre estas crianças, afirmou, «pousa hoje a “complacência” de Deus».
    «Desde quando o Filho unigênito do Pai se fez batizar, o céu se abriu realmente e continua se abrindo, e podemos confiar cada nova vida que nasce às mãos d’Aquele que é mais poderoso que os poderes obscuros do mal», afirmou o Papa.
    «O Criador assumiu em Jesus as dimensões de uma criança, de um ser humano como nós, para poder fazer-se ver e tocar. Ao mesmo tempo, abaixando-se até a impotência inerme do amor, Ele nos mostra o que é a verdadeira grandeza, o que quer dizer ser Deus», afirmou.
    O Papa fez notar sobretudo a importância do papel dos pais e dos padrinhos para fazê-los compreender o sacramento que um dia receberam.
    «Só se os pais amadurecerem esta consciência conseguirão encontrar o justo equilíbrio entre a pretensão de poder dispor dos próprios filhos como se fossem uma propriedade privada, formando-os em base às próprias idéias e desejos, e a postura libertadora que se expressa em deixá-los crescer em autonomia plena, satisfazendo cada um de seus desejos e aspirações», explicou.
    Por outro lado, batizar as crianças pequenas, explicou o Papa, não é «fazer uma violência», mas «dar-lhes a riqueza da vida divina na qual se enraíza a verdadeira liberdade que é própria dos filhos de Deus».
    Esta liberdade, acrescentou, «deverá ser educada e formada com o amadurecer dos anos, para que as faça capazes de eleições pessoais responsáveis».
    Também, o batismo, afirmou, introduz as crianças em «uma nova família, maior e estável, mais aberta e numerosa que a vossa: refiro-me à família dos crentes, à Igreja, uma família que tem Deus por Pai e na qual todos se reconhecem irmãos em Jesus Cristo».
    Confiando estas crianças «à bondade de Deus, que é potência de luz e de amor», estas, «ainda nas dificuldades da vida, não se sentirão abandonadas, se permanecerem unidas a Ele».
    «Preocupados portanto em educá-las na fé, em ensiná-las a rezar e a crescer como fazia Jesus e com sua ajuda, em sabedoria, idade e graça perante Deus e os homens», concluiu.
    «Esta é a estupenda realidade: a pessoa humana, mediante o Batismo, insere-se na relação única e singular de Jesus com o Pai, de forma que as palavras que ressoaram no céu sobre o Filho Unigênito se fazem verdadeiras para cada homem e toda mulher que renasce na água e do Espírito Santo: Tu és meu Filho, o amado», acrescentou.

    Um abraço
    Alcino Coelho

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  5. Em abono da lisura do jornalismo, só espero que o NOTÍCIAS DE RESENDE entreviste o Diretor(a) da Escola Secundária Egas Moniz.

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