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Hélder Amaral: «Declarações e Manipulação»
sexta-feira, 27 de janeiro de 2012 Publicado por Unknown

Hélder Amaral
Deputado do CDS-PP
Algo não anda a correr bem nas declarações dos políticos. Em alguns casos, mesmo que corram bem, aparecem sempre manipulações bem urdidas, e com objectivos bem definidos. Neste tempo de dificuldades, espera-se que todos - em particular políticos, jornalistas e comentadores - assumam uma postura de contenção, isenção e responsabilidade. É verdade que nem sempre os políticos têm usado de bom senso e eficácia na hora de transmitir a mensagem. A última aconteceu ao Presidente da República (PR), que não foi eficaz na mensagem que quis transmitir. Mas é também verdade que a reacção foi manifestamente excessiva: manifestações, peditórios e pedidos de demissão não me parecem proporcionais à “gafe” do Presidente. Não é verdade que Cavaco Silva, como dizem alguns, “fala, fala e não faz”. O Presidente da República deu início ao fim do Governo de Sócrates no discurso de tomada de posse; apoiou o plano de troika; deu a mão a Seguro e à UGT nas conversações com o Governo, e patrocinou o acordo da concertação social – papel que foi reconhecido pelo Primeiro-ministro. Acontece que desta vez quis dizer uma coisa e saiu-lhe outra. O PR quereria dizer aos portugueses que até ele, um privilegiado, tem dificuldades, ou seja, que estas atingem todos de forma diferente, mas ninguém fica de fora. Aceito que o que ficou subentendido não foi isso. Há dias em que uma pessoa não é feliz, já que não vale a pena contar com a serenidade de quem amplia e cria clima com fins bem claros.

Outro caso que diz bem da vontade de criar polémica aconteceu com o Pingo Doce: dos telejornais a comentários, passando pelas redes sociais apelando ao boicote, acusando a família Soares dos Santos de abandonar o país, etc. Depois de uma análise mais cuidada e isenta, percebeu-se que outras empresas bem mais relevantes para a vida de cada um já tinham vendido participações a SGPS na Holanda, por razões bem atendíveis, como o acesso ao crédito e a um sistema fiscal estável (sendo que os impostos da família serão pagos em Portugal). Ou seja, acabaram todos a “meter a viola no saco”. Não muito diferente foi a polémica em torno da sugestão do Primeiro-Ministro para que os professores emigrassem em busca de emprego. Manuel Alegre condena a afirmação e diz que o Governo não tem condições para continuar à frente do País, diz alguém que “fugiu” do País, acompanhado por Carvalho da Silva, e considera criminosa a postura do primeiro-ministro. Que dizer de quem faz de conta que negoceia para, na hora da verdade, virar as costas à concertação social e, assim, ao País…

Mas o que melhor explica a reserva mental de alguma imprensa sucedeu na SIC: sobre os desafios de Portugal para 2012, falava-se de saúde, e a jornalista questionou António Barreto se este não achava “abominável” discutir-se se alguém de 70 anos deve ter direito a tratamentos de hemodiálise. A resposta, porém, foi dada por Manuela Ferreira Leite, que disse que este tipo de doentes “tem sempre direito se pagar”, acrescentando ainda que “o que não é possível é manter-se um Sistema Nacional de Saúde como o nosso, que é bom, gratuito para toda a gente”. Ou seja fica fácil perceber que a ideia é dizer que quem pode pagar deve pagar, como clarificou Manuela Ferreira Leite, mas não evitou a polémica. Note-se o que disseram os outros representantes da esquerda: um dos mais prestigiados cientistas portugueses, o Prof. Sobrinho Simões, disse que os gastos na saúde precisam não só de ser racionalizados, como de ser racionados. António Barreto concordou e apontou dilemas difíceis: a partir de certas idades justificar-se-ão tratamentos muito caros? Ou seja, racionar os serviços de saúde não incomodou ninguém. Palavras para quê?

Um último exemplo de rigor jornalístico: um jornal diário escreveu a letras gor­das, na pri­meira página: “Ministros de Pas­sos já fizeram mais nome­a­ções do que pri­meiro Governo de Sócra­tes” (esta­ria sem­pre tec­ni­ca­mente errado, mesmo abs­traindo do anó­malo cri­té­rio usado para com­pa­rar núme­ros de nome­a­ções). Sig­ni­fica que o actual primeiro-ministro nomeou, em sete meses, mais gente do que o seu ante­ces­sor em mais de qua­tro anos, que foi quanto durou o exe­cu­tivo for­mado após as elei­ções de 2005. O que não só é gros­sei­ra­mente falso, como não cor­res­ponde sequer ao que se pre­ten­de­ria afir­mar, pois tanto o texto como a info­gra­fia das pági­nas do interior expli­ca­vam que só foram con­si­de­ra­dos dois meses e meio (os ini­ci­ais, presume-se) da vida desse governo. O Governo tem no seu site toda a informação, e é papel do jor­na­lismo verificá-los. Se o não faz, é dever do jor­na­lismo investigá-los. Mas isso dá trabalho e, mais do que isso, não ajuda a estratégia de desinformação, e a tentativa de não permitir que o País se concentre no que verdadeiramente interessa.

Unknown

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